A sociedade brasileira de oncologia clínica (SBOC) publicou em 29 de setembro de 2021 sua terceira edição de seu posicionamento referente a vacinação de pacientes oncológicos. A publicação presente em seu website foi em formato de perguntas e respostas em um infográfico. Abaixo descrevemos as informações publicadas.
Por que vacinar pacientes oncológicos com COVID-19?
Pacientes com câncer foram classificados como grupo de risco para complicações da COVID-19, conforme demonstrado em diversos trabalhos científicos. Estudos de registro mostraram maior gravidade da infecção por Sars-cov-2 em pacientes oncológicos, com mortalidade variando de 6-61%. Um estudo de meta-análise encontrou risco de óbito por volta de 26%, muito acima do que encontramos na população geral (2 a 3%). De forma geral, para qualquer neoplasia, a doença ativa confere maior risco ao paciente. Especificamente, dados retrospectivos mostram que neoplasias hematológicas, câncer de pulmão e doença metastática conferem risco ainda maior e persistente. Em pacientes com tumores sólidos, esse aumento do risco parece ocorrer principalmente no primeiro ano após o diagnostico, com redução gradativa, voltando ao risco usual aproximadamente 5 anos após o diagnostico. Portanto, o intuito da vacinação é diminuir a morbidade e mortalidade da COVID-19 nos pacientes oncológicos. Além da maior gravidade, a infecção pelo Sars-coV-2 pode ter desdobramentos também no cuidado oncológico, acarretando atrasos em exames diagnósticos de triagem, tratamentos e monitoramento, podendo levar a consequências devastadoras.
Os pacientes oncológicos em tratamento devem ser vacinados?
SIM. Essa população é considerada de alto risco para complicações da COVID-19. Apesar de não terem sido incluídos em estudos clínicos, existem evidencias suficientes de outras vacinas e de que o maleficio de não vacinar é significativamente maior, dada a mortalidade associada ao vírus nessa população quando comparada aqueles associadas a potencias reações vacinais. É importante ressaltar que, historicamente, esta contraindicado o uso de vacina contendo vírus vivo atenuado em indivíduos imunossuprimidos, incluindo pacientes oncológicos, de forma que esse aspecto deve ser advertido. É imprescindível a avaliação medica individual de cada paciente quanto a possíveis ressalvas `a vacinação.
As vacinas contra COVID-19 são seguras para esses pacientes?
SIM. Embora evidencias a respeito da vacinação em pacientes com câncer seja limitada, há evidencias suficiente para reforçar a indicação e a segurança das vacinas em geral (exceto para vacinas com vírus vivo atenuado ou com vetor de replicação-competente), mesmo nos pacientes em vigência de tratamento.
As vacinas contra COVID-19 são eficazes nesses pacientes?
PROVAVELMENTE SIM. Dados de vacinação de pacientes oncológicos em outros contextos, como influenza, doença pneumocócica e herpes zoster, sugerem haver um efeito protetor. A exemplo, a vacinação contra influenza reduz hospitalizações relacionadas a doença, interrupção de quimioterapia e risco de morte. Baseados na extrapolação destes dados e de outras vacinas, associado a interpretação dos mecanismos de ação das vacinas contra COVID-19 (vacinas com agentes não vivos), pressupõe-se que a eficácia e a segurança da vacinação contra o SARS-Cov-1 seja similar a população geral, embora os dados de estudos clínicos ainda sejam escassos. A eficácia pode variar em diversos contextos ( tipo de tumor, extensão da doença, tratamento imunossupressor, entre outros), entretanto, os benefícios da vacinação devem ultrapassar substancialmente e significativamente os riscos.
O tratamento oncológico pode interferir na eficácia da vacinação?
SIM. As diferentes modalidades de tratamentos oncológicos podem interferir e alterar a eficácia da vacina nesses pacientes. A exemplo, o tratamento quimioterápico, que resulta em redução da imunidade do paciente, pode alterar a resposta imunológica protetora do paciente a vacinação. Por outro lado, entre pacientes em uso de imunoterápicos, o estimulo imunológico poderá interferir tanto na geração da resposta a vacina quanto, em teoria, nos efeitos colaterais. Mais dados são necessários para entender a resposta a vacina frente aos diferentes tipos de tratamentos oncológicos.
Qual o momento ideal para os pacientes com câncer serem vacinados?
O ideal é que a vacina seja administrada antes de iniciar o tratamento, entretanto, mesmo nos pacientes que já o iniciaram, é razoável que os mesmos sejam vacinados a qualquer momento. Em pacientes em tratamento com medicamentos imunossupressores, as vacinas com vírus vivo atenuado deve ser evitado. O oncologista clinico deve avaliar o melhor momento do tratamento do paciente oncológico para a vacinação. Porem, pelo caráter protetor da vacina para esse grupo de alto risco, a vacinação deve ser sempre priorizada.
Sabendo que duas vacinas foram aprovadas no Brasil, existe uma preferencia para pacientes oncológicos?
NÃO. Importante ressalva: Todos os pacientes devem ser orientados que a população de imunossuprimidos foi excluída dos estudos de ambas as vacinas. Portanto, a segurança e a eficácia das vacinas contra a COVID-19 ainda não foram avaliadas nesta população. Ainda assim, como nenhuma destas vacinas possui qualquer parte ativa do Sars0Cov-2 (coronovac é considerada de vírus não vivo, enquanto ChAdOx utiliza um vetor viral – adenovírus – não replicante, ou seja, não capaz de se replicar, por isso considerada inativa também), todas as agencias nacionais e internacionais não tem feito distinção alguma entre ambas no que diz respeito a preferencia nesta população. Outro ponto importante a ressaltar é que nesta população a resposta imune pode ser atenuada, quando comparada a população geral; dessa forma, necessitam ser educados a manter rigorosamente todas as medidas de prevenção de contagio da COVID-19, independente da vacinação.
Os pacientes que já terminaram o tratamento contra o câncer devem ser vacinados?
SIM. Desde que não haja outra contraindicação a vacinação ou alergias aos componentes da vacina. Nesses indivíduos, a exemplo da população geral, a vacinação é imprescindível.
A equipe de saúde envolvida no tratamento oncológico deve ser vacinada?
SIM. Desde que não haja contraindicação a vacinação ou componente da vacina. A vacinação da equipe de saúde contra influenza mostrou reduzir a transmissão da infecção em ambientes hospitalares. Além disso, alguns pacientes imunocomprometidos podem não adquirir a resposta imune suficiente a vacinação. Isto colabora para que a equipe de saúde, que lida com a vasta gama de pacientes e atua num cenário de alto risco, seja também vacinada.
Pacientes recebendo imunoterapia na forma de bloqueadores de co receptores imunes devem ser vacinados?
SIM. Os pacientes em uso destes medicamentos, também conhecidos como inibidores de checkpoint imunológico, especialmente aqueles com câncer de pulmão, têm maior risco de complicações pela COVID-19. Entretanto, podemos estar diante de dados controversos, já que a maior gravidade possa ser devido a riscos não relacionados ao tratamento, mas por comorbidades associadas. Não esta claro se pacientes recebendo essa classe de imunoterápicos podem apresentar complicações ou reações adversas exacerbadas de qualquer vacina viral. Embora a interação da vacina com estes inibidores ainda precise ser mais bem elucidada, a extrapolação dos dados de segurança da vacina contra influenza, nos pacientes em vigência do tratamento, reforça a indicação da vacinação, independente do momento em que a terapia foi iniciada. Considerando os riscos e possíveis benefícios, e desde que não existam outras contraindicações, sugerimos fortemente que os pacientes em tratamento com bloqueadores de co-receptores imunes recebam a vacina, sem interrupção do seu tratamento.
Se o paciente for vacinado durante o período de imunossupressão, devera ser vacinado novamente?
Até o presente momento não existe dados para revacinação neste cenário.
Pacientes com historia prévia de COVID-19 devem ser vacinados?
SIM. Alguns pacientes já infectados por Sars-Cov-2 seja rara nos primeiros 90 dias após a infecção primaria, não existe uma recomendação formal do intervalo min i o entre a recuperação da infecção pelo paciente e a vacinação.
Pacientes que já tenham anticorpos contra COVID-19 devem ser vacinados?
SIM. Ate o momento, não existe experiência suficiente relacionado a presença de anticorpo com proteção futura, e a duração da imunidade não esta claramente estabelecida. A rotina sorológica antes da vacinação não é recomendada, assim coo não são utilizadas para guiar o momento da vacinação.
Devemos acompanhar o paciente vacinado com sorologia?
NÃO. Ate o momento, os testes sorológicos não são utilizados para acompanhar a resposta vacinal ou duração da imunidade.
Pacientes oncológicos devem tomar a terceira dose da vacina contra COVID-19?
SIM. Indivíduos com alto grau de comprometimento imunológico, como aqueles que estão em tratamento com quimioterapia, apresentam resposta reduzida a vacinação de forma geral, necessitando de esquemas vacinais adaptados. A partir desse conhecimento e com base em dados sugestivos de menor resposta imunológica contra a COVID-19 em pacientes imunodeprimidos, o ministério da saúde adotou a recomendação da terceira dose também para esse grupo de pessoas a partir de 15/09/2021.
Quando os pacientes em quimioterapia devem receber a terceira dose da vacina contra o COVID-19?
Para as pessoas com alto grau de imunossupressão, o intervalo para a dose de reforço devera ser de 28 dias após a ultima dose do esquema básico.
Qual a vacina deve ser aplicada como terceira dose para pacientes oncológicos?
De acordo com a portaria do ministério da saúde sobre o tema, a vacina a ser utilizada para a dose adicional (3a dose) devera ser, preferencialmente, a de RNA mensageiro (Pfizer/Wyeth) ou, de maneira alternativa, a vacina de vetor viral ( Janssen ou Astrazeneca).
Fonte: https://sboc.org.br/prevencao/item/2349-covid19-vacinacao-de-pacientes-oncologicos-3