Aproximadamente 40% das mulheres com malignidades ginecológicas, como por exemplo câncer de colo ou corpo do útero e câncer de ovário, ainda não entraram na menopausa no momento do diagnóstico. Por conta do tratamento oncológico (cirurgia, quimioterapia e/ou radioterapia), essas mulheres podem vir a ter uma menopausa induzida e com sintomas mais severos quando comparado à menopausa natural.
Calorões, perda acelerada de massa óssea, secura vaginal, sensação de urgência urinária, doenças cardíacas são algumas das alterações que podem ocorrer na menopausa. O resultado é uma piora na qualidade de vida.
Sabe-se que em alguns casos a reposição hormonal é contra-indicada por elevar as chances do câncer recidivar, mas por outro lado, em algumas situações pode ser feita de forma segura, podendo melhorar a qualidade de vida das pacientes. E pela falta de conhecimento, essas terapias são subutilizadas.
No caso de pacientes com tumores de endométrio (útero) de baixo risco inicial, as pesquisas mostram que não há aumento no risco de recidiva comparado às pacientes que não fizeram reposição. Já quando temos o diagnóstico de tumores de útero avançado, não se recomenda a reposição. Inclusive, em muitos deles usamos a terapia antiestrogênica como tratamento. A reposição hormonal também é segura na grande maioria dos tipos de câncer de ovário, assim como para quem teve câncer de colo de útero.
Para as pacientes que são portadoras de mutações que elevam o risco de desenvolver câncer de mama e ovários (genes BRCA1 e BRCA 2), há a recomendação da cirurgia profilática de retirada dos ovários e, quando não há história prévia de câncer de mama pessoal, a literatura mostra que a reposição hormonal por um tempo curto não aumenta o risco de câncer de mama, sendo, então, segura. Nesses casos, a coleta da história clínica da paciente precisa ser detalhada e a reposição tem que ser avaliada caso a caso.
Autora: Dra. Marcele Vier - Oncologista Clínica
Fonte: SINNO, A.K. et al. Hormone therapy (HT) in women with gynecologic cancers and in women at high risk for developing a gynecologic cancer: a society of gynecologic oncology (sgo) clinical practice statement. Gynecologic Oncology, [S.L.], v. 157, n. 2, p. 303-306, maio 2020. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.ygyno.2020.01.035