Luiz Alberto Silveira – Oncologista Clínico
São poucos os brasileiros que conhecem a relação entre a obesidade e o câncer. Uma pesquisa feita pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em parceria com a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos e com a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS), mostra evidencias na relação entre obesidade e câncer (Cancer Epidemiology / março 2018). Em 2013, 60% da população brasileira estava acima do peso normal conforme o Indice de Massa Corporal (IMC). Pela pesquisa a maioria dos casos de câncer ligados ao excesso de peso e obesidade nas mulheres foram de mama (5 mil), endométrio (2 mil) e cólon (700). Nos homens foi o câncer de cólon (1 mil), de próstata (900) e fígado (650). Os Estados brasileiros com maior número de pessoas com a doença associada ao excesso de peso foram São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Cerca de 30 mil casos novos de câncer que ocorrerão em 2025 (5% do total de casos) serão atribuídos à obesidade e ao excesso de peso.
Uma alimentação saudável e vida ativa são fatores primordiais para combater a obesidade. Políticas públicas são necessárias com regulamentação da produção, da venda, do marketing e da rotulagem de alimentos ultra processados (macarrão e tempero instantâneos, batata frita pronta, suco de caixinha, refrigerantes, nuggets de aves e peixes, etc). Em relação à atividade física, como combate a obesidade, a pesquisa afirma que é necessário se investir em construções de ciclovias, calçadas largas e parques de forma a estimular a população a desenvolver atividades físicas, possibilitando o deslocamentos a pé ou de bicicleta nos percursos de casa para o trabalho, para a escola e lazer.
Os mecanismos que trazem o risco de câncer na obesidade são: Desregulação da morte das células (nossas as células quando envelhecem programam-se para morrer (apoptose celular). A obesidade desregula esse processo e estas células com funções altgeradas permanecem no organismo. Na obesidade há secreção de substâncias pró-inflamatórias que promovem o crescimento de células com perfil cancerígeno. Aumento de vasos sanguíneos - a obesidade favorece o crescimento de novos vasos sanguíneos (angiogênese) - os tumores usam os novos vasos sanguíneos "para se alimentarem". Excesso de gordura abdominal - a gordura nessa região, sobretudo, é capaz de produzir hormônios estrogênios pela ação de uma enzima chamada aromatase. Mudança na flora intestinal - a obesidade contribui para uma mudança no perfil das bactérias que compõem o trato intestinal, favorecendo maior inflamação (câncer do colon e reto). Maior secreção de insulina - a insulina que faz a glicose ser aproveitada pelas células, também está envolvida no processo de inflamação iniciado pela obesidade. Quando a insulina está aumentada, favorece a proliferação celular. Níveis elevados de hormônios sexuais – a obesidade contribui com a produção de hormônios sexuais o que é importante no aumento do estrogênio, um hormônio que está associado a casos de câncer de mama. Cerca de 14 tipos de câncer estão associados ao sobrepeso e a obesidade.
Cuide-se você é seu maior patrimônio – para você, seus amigos e sua família.